A TV Globo voltou em 2021 a ser contemplada com a maior fatia do
investimento de publicidade estatal federal da Secom (Secretaria de
Comunicação) do Palácio do Planalto. A TV Record, que disputa o 2º lugar
de audiência com o SBT, havia assumido a dianteira dos investimentos do
governo de Jair Bolsonaro em 2019 e 2020.
A situação mudou depois da chegada de Fábio Faria ao
Ministério das Comunicações, em junho de 2020, que ficou obrigado a
seguir uma determinação do Tribunal de Contas da União. Com a ordem do
TCU, a emissora líder em audiência passou novamente –assim como nos
últimos governos– a receber mais recursos.
Quando se observa os dados dos 3 primeiros anos de Bolsonaro no
Planalto somados, ainda se nota uma falta de equalização entre o que
cada TV recebe e a audiência.
A emissora de Edir Macedo ainda é a que mais se beneficia quando
somados os recursos destinados pela Secom desde 2019 –ano em que Jair
Bolsonaro (sem partido) assumiu a Presidência da República. Nesses 3
anos, a Record acumula R$ 58,8 milhões. O SBT, em 2º, recebeu R$ 53,5
milhões. A Globo está em 3º lugar no acumulado da administração
bolsonarista na Secom, com R$ 47,2 milhões.
O Poder360 só teve acesso aos recursos programados pela Secom e não o
total de investimentos em publicidade estatal federal das
administrações direta e indireta. Ficam de fora, portanto, os gastos com
propaganda realizados por Petrobras, bancos públicos e pagamentos dos
próprios ministérios para campanhas específicas (essas informações
completas e compiladas não estão mais disponíveis ao público desde 2017,
com a chegada de Michel Temer ao Planalto).
Hoje 3º lugar na lista de beneficiadas quando considerados os 3 anos
de governo Bolsonaro, a Globo terminou o 1º governo de Dilma Rousseff
(2011-2014), do PT, com 21% das verbas estatais comandadas pela Secom.
No governo seguinte, com Michel Temer (2016-2018), do MDB, a fatia
manteve-se em 21%.
Ao se considerarem os investimentos totais da secretaria em empresas
de mídia e não só nas emissoras de TV, a remessa destinada à Globo caiu
de 27% no fim do governo Dilma para 10% no atual momento do governo
Bolsonaro.
Quando comparados os índices de audiência de cada emissora no período
de outubro de 2020 a outubro de 2021, a Globo figura isolada na
liderança. Como indicado em infográfico, o share da
emissora, isto é, a porcentagem do número de espectadores comparada aos
níveis das concorrentes é de 31%, enquanto Record TV e SBT aparecem com
12% e 10%, respectivamente.
Isso quer dizer que, de 100 televisores ligados no Brasil entre
outubro de 2020 e outubro de 2021, 1/3 estavam sintonizados na Globo.
Se consideradas só as 5 maiores emissoras de TV nesse período, a cada
100 televisores ligados, 55 estavam sintonizados na Globo; 21 na Record
TV, 17 no SBT, 5 na Band e 2 na RedeTV!. Os dados são da Kantar Ibope
Media.
Relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) de novembro de 2019
indicou que a Secom do governo Bolsonaro destinava maiores percentuais
de verbas publicitárias para a Record TV e o SBT –emissoras que não são
líderes em audiência, mas que são consideradas aliadas ao Planalto– em
comparação à TV Globo.
O Poder360 apurou que os processos listados pelo TCU que indicavam
assimetria no pagamento de serviços de publicidade catalisaram o
movimento do governo de voltar a pagar fatias maiores à Globo. A gestão
do ministro Fábio Faria fez esse compromisso com o tribunal. O acordo
foi cumprido neste ano.
A equipe da Secom fica sob coordenação de Faria. O presidente
Bolsonaro demitiu Fábio Wajngarten em março de 2021. A secretaria tem
buscado a sistematização de processos e o pragmatismo na era
pós-Wajngarten. O caso da verba de publicidade destinada pela pasta é um
dos exemplos.
Bolsonaro é crítico à TV Globo desde a campanha, nas eleições de
2018. No fim de outubro de 2019, depois de ser citado em uma reportagem
sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol), no Jornal
Nacional, fez uma live no Facebook e chamou a Globo de “podre, canalha”.
A série histórica sobre publicidade do governo federal começou a ser
construída de maneira mais consistente a partir do ano 2000. Desde 2018,
porém, só os dados da Secom são unificados e publicados. Isso porque,
em 2017, por decisão de Michel Temer, os dados de toda publicidade
estatal federal compilados das administrações direta e indireta pararam
de ser divulgados.
No total, de 2000 a 2016, o grupo Globo chegou a receber R$ 10
bilhões. Hoje, não é possível ter acesso a esse montante unificado da
Globo nem de outros veículos de comunicação.
Poder 360