Atualmente sem clube, o diretor executivo de futebol Felipe Ximenes aproveitou o período da pandemia do novo coronavírus para se aprofundar em outra atividade. Felipe Ximenes lançou um curso online relacionado à gestão esportiva. Mineiro de Três Corações, ele é especialista em gestão de pessoas, sendo graduado em Educação Física pela UFMG e mestrado em Educação, pela UNINCOR. Desde 2010, Ximenes é membro do corpo docente dos cursos para formação de treinadores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O profissional conversou com a reportagem da Super Rádio Tupi e explicou o formato das aulas virtuais.
– Criei um curso totalmente pela internet. Abri 50 inscrições e acabei tendo mais de 200 interessados. Montei a primeira turma que possui alunos de três continentes, o que mostra a grandeza do mundo digital. São alunos dos Estados Unidos, Portugal e vários estados do Brasil. Treinadores, ex-treinadores, presidentes e ex-presidentes de clubes participam. Estou dedicando toda minha vida relacionada ao esporte com essas pessoas para que a pandemia possa gerar uma oportunidade de dividir tudo que acumulei ao longo de mais de 35 anos de experiência no esporte, especialmente no futebol. São 10 módulos totalmente online, onde o aluno recebe em casa a ficha do módulo, que contém de 8 a 10 capítulos em cada um dos módulos. Pode assistir quantas vezes quiser ao longo da semana. Os alunos fazem parte de um grupo privado comigo onde discutem as dúvidas do módulo. No fim de semana temos uma aula online comigo e toda turma. Conversamos e multiplicamos conhecimento – disse Ximenes, que espera aumentar o nível de conhecimento e a rede de contatos dos participantes.
– Espero que todos possam sair transformados do curso, sendo melhores pessoas e profissionais. Que possam aumentar a rede de relacionamentos. Um gestor de um clube aqui do Rio de Janeiro está fazendo negócio com um aluno meu de Portugal através do curso. Estamos vivendo um mundo onde a rede de relacionamentos é muito importante. Quando a gente tem reduzida em uma comunidade pessoas que são apaixonadas por futebol e gestão, a chance de estar abertos para novas oportunidades é muito maior – afirmou.
O futebol está parado há três meses devido à pandemia da Covid-19. As federações de cada estado discutem com os clubes protocolos de segurança e datas para retorno das partidas. Felipe Ximenes analisou o atual momento do futebol brasileiro.
– Estamos vivendo uma época digna de um continente que é o nosso país. Temos situações mais próximas do retorno, temos estados com clubes há mais de duas semanas treinando presencialmente e outros estados que ainda estão começando esse processo de relaxamento e retorno do futebol. Vamos ter naturalmente a volta dos treinos com essa pandemia fazendo parte da nossa vida. O cuidado para que esse retorno seja feito da melhor maneira possível deve existir. Ao mesmo tempo, entendo que o futebol faz parte da sociedade como um todo e precisa retornar desde sejam tomadas as medidas de segurança – Comentou.
Futebol no Rio de Janeiro
– Antes de qualquer coisa a gente deve cobrar e estar atentos às autoridades que são responsáveis por isso, para que direcionem como a sociedade deve se comportar. Todos os seguimentos de trabalho precisam seguir essas determinações. O que a gente ainda vê é uma falta de alinhamento no discurso das pessoas que são responsáveis em determinar esse retorno. Vão existir opiniões de clubes divergentes de acordo com a opinião pessoal das pessoas que dirigem cada um desses clubes. Acredito que estamos mais próximos de voltarmos às atividades em relação ao período de isolamento social na pandemia. Vejo com bons olhos e acredito que em breve vai ter essa paixão do brasileiro de volta –
Impacto nos clubes
– Já são 90 sem competições. Naturalmente, os clubes já perderam contratos e tentaram fazer medidas que diminuíssem custos fixos e variáveis ao longo desse período, porém quando essas medidas são tomadas começa a gerar o chamado passivo trabalhista. Não sabemos se as demissões ou reduções de funcionários foram feitas se precavendo em relação a esse passivo. Outra coisa importante é que a gente não sabe como vai ser o comportamento da torcida mesmo após a liberação de público nos estádios. Se vamos ter os campeonatos desse ano totalmente sem público e, se os campeonatos Estaduais terminarão suas competições. A gente já vê a movimentação em alguns estados para finalizar os campeonatos. Isso vai depender de quanto tempo vai demorar para que os jogos possam ser realizados. A questão do calendário é uma matemática de datas. Quanto menos datas tivermos, mais prejudicadas serão as fórmulas de disputa. Existem competições paralelas entre os Estaduais, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Sul-Americanas –
Adaptação ao calendário europeu
– É uma situação muito complexa. Se esse assunto tivesse sido discutido há mais tempo no Brasil, sabendo de todos os impactos positivos e negativos dessa mudança, se tivéssemos chegado à conclusão que os impactos positivos são maiores do que os negativos, talvez pudesse ser uma boa oportunidade sim. Sinceramente, não tenho conhecimento profundo das entidades que são responsáveis por isso para definir uma situação tão complexa como mudar nosso calendário ou adequá-lo a Europa. O primeiro obstáculo inicial é que fazemos parte do hemisfério sul. Nosso inverno é o verão da Europa e vice-versa. São situações delica
das que merecem ser estudadas mais profundamente. Para esse ano a gente não tem mais essa condição –
Desafio de um executivo no pós-pandemia
– Toda crise apresenta oportunidades. Todos os momentos que as grandes mudanças aconteceram no mundo paradigmas foram quebrados. Apesar de estarmos vivendo uma situação muito difícil, talvez a mais difícil pós-guerra, tenho certeza que janelas de oportunidades se abrirão e aqueles profissionais que estiverem mais preparados para enfrentar o mundo pós Covid-19, tiverem mais criatividade, forem mais resilientes, sairão na frente. A valorização dos atletas de base, conversas com os elencos para que sejam feitos contratos mais coerentes de acordo com a realidade do futebol brasileiro, valorização do dólar e do Euro podem ser uma boa oportunidade para que a gente melhore as receitas com vendas de jogadores. Atletas de outros mercados podem retornar ao brasil. Existem alternativas e o gestor de futebol pensa muito mais que simplesmente montar elencos, mas sim gerir um departamento que às vezes passa de uma centena de pessoas.