O eleitor no furacão
O pleito de 7 de outubro vai ficar marcado
na história como o mais devastador da velha política nesses tempos de crises
política, econômica e ética. O eleitor fez questão de dar um recado tão
intenso, que nem mesmo as pesquisas detectaram seu impacto. A velha política
foi jogada na cesta do lixo. Grandes figuras da política tradicional foram
alijadas do processo. A renovação veio em cheio. Foi a eleição das
surpresas. No contraponto, outsiders apareceram, entre os quais o empresário
Romeu Zema, em Minas Gerais, e o juiz Wilson Witzel no Rio de Janeiro, que
disputarão o segundo turno da campanha contra Antônio Anastasia e Eduardo
Paes.
Petismo e anti-petismo
No plano presidencial, o pleito se
caracterizou por ser uma disputa entre o petismo e o antipetismo, na esteira
do clássico bordão tão ecoado pelos petistas: "Nós e Eles". O PT foi
amplamente castigado pelo voto do Sudeste, maior reduto eleitoral do país
(Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) e, ainda, por
enclaves do Sul, Centro-Oeste e Norte. O petismo deu boa resposta no
Nordeste, onde, com exceção do Ceará (Ciro levou a melhor), Haddad bateu
Bolsonaro.
Quase 1º turno
Com quase 50 milhões de votos, o capitão
quase ganhou no 1º turno. Houve um empuxo na última semana, a formar uma
onda bolsonariana que puxou classes médias, contingentes das margens,
setores produtivos e engajamento de grupos identificados com as bancadas
evangélica, agronegócio, profissionais liberais. O voto útil acabou não
aparecendo na quantidade desejada e assim Ciro Gomes, que poderia ser o
catalisador dessa modalidade, ficou para trás.
Campanha inusitada
Vimos uma campanha inusitada: mais curta,
mais asséptica quanto à limpeza das ruas, mais contundente na área dos
discursos, cheia de ódio entre os militantes. E mais: os dois mais
rejeitados foram os dois mais desejados, a denotar que a polarização acaba
jogando a questão da rejeição ao segundo plano. Também foi uma campanha onde
o líder dos votos ficou praticamente afastado das ruas. O atentado que
sofreu - uma facada na barriga em Juiz de Fora - obrigou-o a ficar em um
hospital e em sua casa.
Inversão
Praticamente sem recursos, o capitão
Bolsonaro inverteu a ordem dos eixos do marketing eleitoral: sem aparecer,
teve a mais forte visibilidade em função do simbolismo que passou a
representar e da forte inserção de seu nome nas redes sociais. Vídeos sobre
ele correram nas redes. Tiradas picantes e algumas cheias de humor. Ganhou a
batalha da comunicação de bico calado. A articulação social foi a perna do
marketing mais desenvolvida nessa campanha: os movimentos organizados
praticamente realizaram as tarefas dos cabos eleitorais.
Radicalização
Haddad foi empuxado de Lula, a partir da
prisão na PF em Curitiba, onde praticamente montou o comitê central da
campanha petista. O padrinho transferiu cerca de 40% dos votos do Nordeste
para seu afilhado. Não passou mais pela onda bolsonariana que bateu na
região na última fase da campanha, com eleitores cheios de vigor e dispostos
a fazer carreatas. O bolsonarismo fez campanha com a tocha acesa, assumindo
posições radicais. Foi mais forte que o PT na radicalização. O PT ficou
refém da Lava Jato, escondendo os erros e malfeitos de dirigentes e
ex-dirigentes envolvidos na operação.