Em troca de mensagens num grupo de WhatsApp, traficantes de drogas comentam que policiais civis do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) apreenderam uma tonelada de cocaína da quadrilha, mas só apresentaram oficialmente 200 kg e desviaram o restante.
A apreensão aconteceu em 28 de julho de 2021, quando investigadores do Deic localizaram um caminhão com 1.040 kg de cocaína escondidos em uma carga de açúcar na Baixada Santista. A droga iria por navio para a Europa, via porto de Santos, e seria vendida por R$ 200 milhões. No dia da apreensão, três homens foram presos. Os donos da droga, no entanto, não foram sequer indiciados. Um deles é um megatraficante com ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital), que estaria escondido em um país vizinho ao Brasil. As mensagens dos traficantes no grupo de WhatsApp criado com o nome "trabalho forte" e vídeos com imagens da droga foram obtidos com exclusividade pelo repórter Rodrigo Hidalgo e exibidos na edição de ontem (27) do Jornal da Band.
Um dos vídeos mostra a cocaína armazenada em um depósito na Baixada Santista. Há também fotografias da droga sendo escondida em sacas de açúcar para exportação. Uma das fotos enviada no grupo pelo megatraficante é de um scanner utilizado para fiscalizar o mesmo tipo de produto. O megatraficante explica como a droga tem de ser ensacada para não chamar a atenção dos fiscais da alfândega, evitando assim, possível apreensão. O plano da quadrilha, no entanto, deu errado momentos antes da cocaína ser colocada em um contêiner. Os policiais do Deic invadiram o depósito e acharam a droga no caminhão. Os três pequenos traficantes presos foram levados para a sede da 6ª Delegacia de Combate às Facções Criminosas, no prédio do Deic, no Carandiru, zona norte de São Paulo, e autuados em flagrante por associação ao tráfico. No boletim de ocorrência, ao qual a reportagem teve acesso, consta que foram apreendidos 200 tabletes de cocaína
Os megatraficantes que não foram presos continuaram trocando mensagens no grupo "trabalho forte". Eles se surpreenderam e se revoltaram quando viram as imagens divulgadas pelos policiais apresentando uma quantidade bem menor da droga na sede do Deic. Um deles reclama do desvio da droga: "200 kilos colocaram". O outro interlocutor também se queixou: "Os cara roubou tudo. Bando de ladrão. Trocaram até as peça (tabletes)". A Corregedoria da Polícia Civil abriu apurações preliminares para investigar as denúncias de desvios de drogas envolvendo policiais do Deic. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Segurança Pública, investigadores e delegados da 6ª Delegacia foram afastados. Os nomes e a quantidade dos policiais afastados não foram divulgados. O delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes, disse à reportagem que a Corregedoria está fazendo uma apuração rigorosa e que, se houver culpados, eles serão punidos com todo o rigor da lei. Em outra investigação, o Ministério Público Estadual apurou que três investigadores da 2ª Delegacia de Crimes contra o Patrimônio, do Deic, tentaram desviar 500 kg de cocaína de traficantes ligados ao PCC. O plano também deu errado. Os policiais não conseguiram interceptar a droga. A cocaína acabou apreendida por agentes da Receita Federal no porto de Santos e estava em um caminhão carregado de sacas de açúcar. Dois entre os três policiais foram presos, mas já estão soltos.
(Uol - Josmar Jozino 28/01/2022 04h00)
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