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domingo, 22 de novembro de 2020

"Se a senhora conseguir acalmar ele, eu tiro todo mundo de cima dele", disse funcionária do Carrefour à esposa de João Alberto

 


Adriana Alves Dutra (foto) foi ouvida como testemunha e, segundo a Polícia Civil, poderá ser responsabilizada pelo crime

A mulher de camisa branca que chama a atenção nos vídeos das agressões contra um homem negro no Carrefour do Passo D'Areia, em Porto Alegre, é Adriana Alves Dutra, agente de fiscalização do supermercado. A conduta da funcionária, que tenta, inclusive, impedir que pessoas filmem a violência contra João Alberto Silveira Freitas, está sendo investigada pela Polícia Civil. Freitas, 40 anos, morreu no local, na noite da quinta-feira (19).

Em um dos vídeos, Adriana aparece andando ao redor da vítima e parece dar ordens por meio de um rádio. Ao ver que está sendo filmada, ela tenta impedir e discute com pessoas:

— Não faz isso que vou te queimar na loja — avisa ela.

— A gente trabalha aí na loja. Mas isso não pode — responde um dos homens.

E a conversa segue:

— Não pode, tu viu o que ele fez lá, ele deu numa mulher lá em cima (a polícia diz que imagens não mostram a vítima agredindo ninguém dentro do supermercado), cara, te liga.

— Ele deu numa mulher?

— Claro, se não a gente não teria conduzido ele. Ele pode bater em nós?

— Mas vocês também não podem.

— A gente está tentando imobilizar ele.

— Tentando não, ele tava batendo nele, olha o jeito que ele tá. Isso aqui tá um absurdo.

Em seguida, Adriana dirige-se à esposa de João:

— A gente só quer imobilizar ele. Se a senhora conseguir acalmar ele, eu tiro todo mundo de cima dele.

Mas João acabou morrendo no local. Informações preliminares da perícia indicam que ele pode ter sofrido um ataque cardíaco decorrente das agressões e pelo fato de os agressores terem se ajoelhado nas costas dele. 

Giovane Gaspar da Silva, policial militar temporário, e Magno Braz Borges, segurança terceirizado, foram presos por homicídio triplamente qualificado: por motivo fútil, por asfixia e por usar meio que impediu a defesa da vítima.

Conforme a delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, além dos dois presos e de Adriana, outras pessoas que estavam no local e não agiram para impedir o crime serão investigadas e podem ser responsabilizadas.

GZH teve acesso ao depoimento que Adriana prestou na madrugada desta sexta-feira (20), acompanhada pelas advogadas Karla Sampaio e Eduarda Matzembaker. Elas preferiram não se manifestar no momento. Em afirmações feitas no depoimento, Adriana contradiz o que é possível ver no vídeo, como os pedidos de ajuda da vítima, que ela diz não ter ouvido.

Em depoimento como testemunha, Adriana disse que estava no setor de bazar quando foi chamada para atender a situação de um cliente que estaria em atrito com outra funcionária. Relatou que, ao chegar no local, "um cliente que trajava roupa preta, que soube ser policial militar, estava apaziguando a situação e já conversava com a vítima na intenção de acompanhá-la com o fiscal de piso Magno até a saída". 

"Que Jéssica relatou à depoente que a vítima seria uma pessoa agressiva e que havia entrado em atrito com fiscais de loja em outras datas. No momento da chegada da depoente, a vítima estava tranquila e foi acompanhada pelo policial e pelo fiscal. Tendo a vítima empurrado uma senhora e foi novamente orientado pelo cliente/policial a deixar disso e se acalmar. Que a vítima desferiu um soco no policial, momento em que se embolaram. Que a depoente fez a solicitação para chamar a Brigada, pelo rádio, e ligou para o Samu, quando viu sangue, e que a vítima havia desmaiado. Que a vítima proferia xingamentos durante a contenção, mas não ouviu a mesma pedir ajuda. Que a depoente pediu várias vezes aos rapazes que largassem a vítima", diz trecho do depoimento.

(Zero Hora)

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