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quinta-feira, 12 de maio de 2022

Uma homenagem aos 46 anos sem o Batatinha do Cruzeiro


Na rádio, a triste Balada nº 07: "...ainda balança na rede seu último gol." Dói até hoje. Roberto Monteiro já fazia parte da família.

Uma semana para lavar a alma celeste. Do Ginásio do Horto, passando por Brasília e chegando ao espaço sideral. Uma sequência de fatos incríveis para o cruzeirense. Primeiro, como profetiza a Torcida Fanáti-cruz (TFC) com o “canta que sai gol”, empurrados pela Orquestra Azul das arquibancadas, vencemos o Grêmio. Depois, a notícia de que a Nação Azul estará representada numa viagem espacial com o cruzeirense Victor Hespanha. E por fim, para a explosão de alegria de milhares de apoiadores de Lula, candidato à Presidência da República, se declarando torcedor do Time do Povo Mineiro, o Cruzeiro.
Mas essa semana também é de saudade, principalmente para os que viveram intensamente o ano de 1976. Nesta sexta-feira (13/05) completam-se 46 anos da morte de um gênio da bola: Roberto Batata. Por essa passagem, convidei o amigo Evaldo Alcântara, cruzeirense da querida Coluna, no Vale do Rio Doce, para escrever uma homenagem ao saudoso Batatinha.
Era 1977. O menino do interior, passeando pelo centro da capital, encontrava-se no Paiol, armazém de seus tios na Avenida Santos Dumont. Virou-se sério para um deles e disparou: “Tio Aloísio, que notícia o senhor me dá da viúva do finado Roberto Batata?”
Foi uma risada só, deixando o menino desconcertado. Ele não entendeu se as gargalhadas vieram pelo inusitado da pergunta, por sua preocupação com uma viúva que sequer conhecia ou pelo discreto pleonasmo. Certo é que a gozação em família perdura até hoje, mesmo o garoto já passado dos 50 anos.
Mas, o que muitos não sabem, é que aquela preocupação fazia sentido. O menino era um cruzeirense apaixonado. Ainda sentia a falta do ídolo que partira de repente, e a família dele lhe importava.
A paixão nascera em 1973 e 1974, quando pediu aos pais um rádio de presente de aniversário para acompanhar as partidas e o noticiário do Cruzeiro.
O radinho às vezes ficava na janela da sala, aberta para a praça. Assim a meninada, que se reunia por ali para jogar bola, também podia ouvir e sonhar com os lances de Raul, Nelinho, Moraes, Darci, Vanderlei, Piazza, Zé Carlos, Jairzinho, Palhinha, Eduardo, Roberto Batata, Joãozinho e companhia. Um timaço!
Quem fazia uma defesa gritava: “Rauuul.” Os batedores de falta eram todos Nelinho. Os dribladores, Joãozinho ou Batata. Um desarme, Zé Carlos ou Piazza. Uma chegada mais forte, era Moraes. Os gols de Palhinha ou Jairzinho. O Rabo de Vaca era exclusividade do Eduardo.
Em 1975, a glória. Toda a cidade de Coluna acompanhou a emissora de rádio reprisando, a pedido do menino, o golaço de Palhinha no 3 a 2 sobre o Santa Cruz, que classificou a Raposa para a final do Brasileiro. Jogo único em Porto Alegre: Cruzeiro x Inter, Nelinho x Manga, Palhinha x Figueroa, Eduardo x Falcão. Joãozinho infernal, mas um gol no mínimo discutível e mais um vice Brasileiro.
Em 1976, a magia da Copa Libertadores, os 5 x 4 no mesmo Inter. Mais que uma vingança, um dos maiores jogos da história do futebol brasileiro. O título veio de Santiago, detrás dos Andes, em jogo desempate, em cima do todo poderoso River Plate, base da Seleção Argentina que seria campeã do Mundo em 1978. Um gol atrevido do Bailarino da Toca, ouvido no rádio de um fusca estacionado na pracinha de Coluna. Explosão de alegria e foguetes numa noite de inverno estrelada numa cidadezinha perdida no interior de Minas.
Mas, em meio a isto tudo, a morte de Roberto Batata, num acidente de carro, aos 13/05/1976. Chegando a Belo Horizonte, vindo do Peru, depois de mais uma vitória pela Libertadores, com um gol seu, cansado, pegou o carro para dirigir até Três Corações para buscar a esposa e o filho de apenas 11 meses.
O radinho contou tudo e ainda ressoa cada detalhe da trágica história de Roberto Batata, Batata, Batatinha, 26 anos. Craque com 281 jogos, 110 gols e passagens pela Seleção Brasileira. Partia prematuramente. Não driblou seu último adversário, um caminhão. Na rádio, a triste Balada nº 07: “...ainda balança na rede seu último gol.” Dói até hoje. Roberto Monteiro já fazia parte da família.
(Estado de Minas)

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