Braz Chediak, tricordiano, diretor de cinema, roteirista, ator e escritor
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quinta-feira, 24 de março de 2022
O ARCO-ÍRIS! - Braz Chediak
No rádio sobre a cristaleira da sala, Cascatinha e Inhana cantavam “Índia” e, logo em seguida, o locutor fazia o anúncio dos patrocinadores: “melhoral, melhoral, é melhor e não faz mal”...
Quando começava a trovejar minha avó pegava uma lata com palhas bentas e esparramava a fumaça pela casa, murmurando suas orações. Meu avô, vestido de pijama, desligava o rádio para não queimar, observava tudo e, quando a chuva despencava, me gritava para fechar a vidraça.
Sobre uma cadeira, eu observava a enxurrada carregando folhas, galhos, latas...
As tempestades eram mistérios que eu temia.
Quando cessavam, a vida na Rua da Cotia recomeçava, mulheres contavam os estragos que o vento tinha feito em suas casas, homens examinavam telhados, nós, as crianças, brincávamos nos pequenos riachos que desciam a rua, rentes às calçadas, gritando: “O arco-íris... O arco íris...”.
Meus avós eram velhos e eu pensava que sempre foram assim. Não podia compreender que há infância, juventude, velhice, morte. Aliás, a morte acontecia em outras paragens, não em nossa casa.
O tempo passava devagar. Mas, de repente... De repente, como escreveu Alarcon, “o que se passou, então? A vida. E eu estou velho”.
E, como todo velho, vivo também da memória e, às vezes, misturo as coisas.
Da varanda vejo o céu escurecer. As nuvens estão carregadas, gotas grandes começam a cair e entro em casa.
Escrevo num pedaço de papel o que preciso fazer amanhã. Furando-o no meio, enfio no buraco a chave da casa e, em seguida, coloca-a na fechadura. Assim não esquecerei compromissos.
Meus avós e meus pais morreram, há muitos anos, minhas mulheres morreram ou partiram. As tempestades não são mais mistérios.
Pela fresta da janela observo a água carregando folhas, galhos... e ouço as crianças lá fora, correndo pelos pequenos riachos que descem a rua, rentes às calçadas, gritando, “O arco-íris... O arcoíris”... Fecho as frestas da janela. Tudo fica escuro...
Anoitece.
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Bráz Chediak, pessoa inteligente, escritor Nato. Parabéns pela arte!
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