Médicos do HUGV, em Manaus, alertam que mais mortes podem ocorrer, já que o estoque de oxigênio da unidade deve durar apenas mais algumas horas
Com o aumento súbito da demanda por oxigênio e baixa oferta nos hospitais em Manaus, médicos que atuam no tratamento de pacientes com Covid-19 relatam que estão tendo que escolher quais paciente serão assistidos.
O mesmo pode acontecer em outras unidades, como Serviços de Pronto Atendimento e o Hospital 28 de Agosto, uma das unidades de referência para Covid-19, onde o estoque de oxigênio também não deve durar até o fim do dia, contam médicos.
A demanda por oxigênio da rede estadual de saúde, que era de cerca de 30 mil metros cúbicos por por dia em abril de 2020, no primeiro pico da pandemia, chegou a 76 mil metros cúbicos nesta quarta-feira (13).
Outro médico que trabalha no HUGV relatou à reportagem que as primeiras horas do dia na unidade foram de tensão, após o nível de oxigênio atingir nível crítico, afetando todos os pacientes internados que utilizavam respiradores.
"Hoje é o pior dia do hospital desde o início da pandemia", relatou o profissional, que é residente na unidade.
Ele contou que, por volta de 8h desta quinta (14), o nível de oxigênio no HUGV chegou ao ponto mais crítico, levando a óbito cinco pacientes que estavam em ventilação mecânica no CTI e um que estava internado na enfermaria.
"A situação se agravou de uma forma muito rápida. É muito complicado, porque quando a rede de oxigênio baixa, todos os pacientes sofrem ao mesmo tempo, então você acaba tendo que priorizar pelo prognóstico, temos que escolher quem vai ser assistido", relatou.
O médico diz ainda que a escassez de oxigênio preocupa ainda mais pelo fato de o HUGV ser a unidade de saúde preparada para desafogar os hospitais de referência para Covid-19, que estão perto da lotação máxima para leitos de UTI.
Os cilindros de oxigênio doados por outras unidades, públicas e privadas, e pela própria população ao HUGV na manhã desta quinta, conta o profissional de saúde, não serão suficientes para garantir o atendimento até o fim do dia.
A preocupação, explica ela, é com os pacientes graves, que estão na UTI com uso de respirador, equipamento que não funciona perfeitamente sem oxigênio no nível adequado.
Sem oxigênio, os pacientes precisam ser "ambusados", ou seja, dependem de uma pessoa manusear o ambu (aparelho manual de ventilação) de forma ininterrupta.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mauro Vianna, denunciou que a situação do HUGV está se repetindo em outras unidades de saúde da capital, onde "pacientes que precisam de oxigênio estão sendo ambusados, mantidos vivos pelo esforço dos profissionais médicos, enfermeiros e técnicos".
Vianna afirmou que os profissionais de saúde alertaram para essa situação, que ele classificou como terrível, e defendeu uma "operação de guerra" para repor o estoque dos hospitais de Manaus antes que todos fiquem sem oxigênio.
"Transportar oxigênio de outros estados em caráter de guerra é uma necessidade para salvar vidas. E que Deus nos ajude"
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