(Extraído do Blog do Madeira)
O leitor Carlos Cornwall brinda os leitores do blog com uma matéria especial, resultado de boa pesquisa, sobre a passagem de Dom Pedro II pela região.
Informações sobre a foto:Imperador D. Pedro II em visita ao Túnel da Mantiqueira em 25/06/1882 (lado paulista):Ao seu lado a Imperatriz Terêza Cristina, a Princesa Isabel, o Conde d’Eu e os Príncipes D. Pedro Augusto e D. Augusto (ambos netos do Imperador, filhos da Princesa D. Leopoldina); Conselheiro de Estado e Senador do Império, Dr. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, Barão da Laguna (Senador do Império e Camareiro de S.M.); Visconde de Bom Retiro (Senador do Império); Conselheiro e Senador Afonso Celso (Visconde de Ouro Preto); Dr. Cristiano Benedito Otoni (Senador do Império e construtor da E. F. D. Pedro II); Baronesa de Fonseca Costa (Dama da Imperatriz); Dr. Afonso Pena (Ministro da Agricultura e Viação); Mr. Herbert Hunt (construtor da ferrovia).
Há 136 anos, a história da região começava a mudar radicalmente, pois naquele dia 14 de junho de 1884, Sua Majestade D.Pedro II e comitiva fizeram soar o primeiro apito da locomotiva da então “Minas and Rio Railway” com sede em Londres, Inglaterra. A Estrada de Ferro Minas /Rio ou Estrada de Ferro do Rio Verde,que sai de Cruzeiro/SP até Tres Corações, causou mudança na vida das cidades ao seu entorno.
O Empreendedor foi Couto de Magalhaes, com autorização do Governo Imperial e participação do não menos Famoso Barão de Mauá.A Estrada de Ferro Minas e Rio se originou de uma concessão feita em 1875, pelo Governo Imperial a José Vieira Couto do Magalhães e ao Visconde de Maúa(depois Barão-homem que implantou a primeira ferrovia do Brasil), com a denominação de Estrada de Ferro Rio Verde.
Em agosto do mesmo ano, os engenheiros Raimundo Teixeira Belfort Roxo e José Wirth foram encarregados, por aquele Governo, da verificação, no terreno, dos respectivos estudos.Em maio de 1876 foi aceito o projeto de entroncamento na 4ª Seção da Estrada de Ferro D.Pedro II,sendo denominado Três Corações para término da linha.
Em Londres, a 24 de Abril de 1880 organizou-se uma companhia com o nome The Minas and Rio Railway, com o fim de construir a estrada. Para que essa Companhia pudesse funcionar no Império, o Governo Imperial deu a respectiva autorização, pelo Decreto n. 7.734, de 21 de Junho do mesmo ano de 1880.Em 21 de Abril de 1881, tiveram começo os trabalhos de construção, tendo sido em 3 de Maio, aprovada uma modificação no traçado da linha nos seis primeiros quilometros (distância que hoje corresponde ao trecho de Cruzeiro/SP a Rufino de Almeida).
Chegando a 1884 os esforços foram concentrados na perfuração do túnel na Serra da Mantiqueira. Marc Ferrez, fotógrafo da família imperial, documentou a construção da Minas and Rio Railway, registrando a visita às obras de abertura do túnel da Mantiqueira, efetuada em junho de 1882. Em março de 1883, quando as linhas não estavam concluídas, foi inaugurado o túnel com a presença do Imperador D. Pedro II.
A construção da estrada findou em 1884. No dia 14 de junho desse ano foi ela aberta ao tráfego desde Cruzeiro até Três Corações do Rio Verde, com extensão de 170 Km.Como foi o dia 14 de junho de 1884:Partindo de Cruzeiro até Passa Quatro, o comboio especial foi guiado por Tomas Morton; e de Passa Quatro até Três Corações foi levado por Henrique Turnen, ambos de nacionalidade inglesa.Atrelada a composição, que levava a figura insinuante de D. Pedro II, a locomotiva n. 7, denominada “Couto de Magalhães” vencia aos espaços, toda ornamentada de flores, reluzente nos seus metais polidos e na faceirice de sua pintura nova.
Contam os ilustres filhos de Henrique Turner, residentes em Cruzeiro, que o trem inaugural, com sete carros lotados de passageiros, fez o percurso de Passa Quatro a Três Corações (135 Km) em duas horas e trinta e cinco minutos. Sem dúvida, foi um “record” para aqueles tempos, pois a proeza significa uma velocidade de 52,2Km por hora.A locomotiva “Buarque de Macedo” (n. 8), escoteira, precedendo de 10 minutos o trem inaugural, foi incumbida de patrulhar a linha, sendo conduzida pelo maquinista ingles Charles Beck.
Na sua corrida desabalada, o primeiro trem apenas parou duas vezes em todo o seu percurso de Passa Quatro a Três Corações: em Carmo, para abastecimento de água e lubrificação e renovação do fogo e ainda para receber o então Barão do Monte Verde; e em Contendas, para receber o Barão de Contendas.O horário foi religiosamente cumprido e, ao saltar de sua locomotiva, o maquinista foi honrado com um abraço de D. Pedro II.( Lima,Vasco de Castro em A Estrada de Ferro Sul de Minas publicado em 1934.)
Com ponto inicial na cidade de Cruzeiro, em S.Paulo, onde teve o seu km.0, a linha venceu a serra da Mantiqueira onde atinge a altura de 1000 m., isso no km X.Prosseguindo, a linha buscou já nas terras mineiras seguir o Rio Verde que acompanha o traçado até a então estação final, Três Corações do Rio Verde, hoje Três Corações, a 170 km do ponto inicial.No início, transportava , no sentido de exportação, café e produtos diversos como gado, milho etc e no sentido de importação, sal e industrializados. Suas principais estações foram Passa Quatro, Itanhandu, Pouso Alto(hoje S.Sebastião do Rio Verde), Fazendinha, (depois Carmo e hoje Américo Lobo) S.Lourenço, Soledade de Minas (onde, em 1891,começariam as linhas de Caxambu e Itajubá) , Freitas (onde posteriormente, em 1892, iniciaria a linha de Lambari e Cambuquira), Contendas (hoje Conceição do Rio Verde) e Finalmente Três Corações.
No início dos anos 1900 começam aparecer os primeiros turistas em buscas das águas para tratamento ou em simples passeios de verão. Eram os então chamados “veranistas” e logo era intenso o movimento de trens trazendo milhares de pessoas nas temporadas, vindo do Rio e São Paulo, além de outras cidades, rumo a São Lourenço, Caxambu, Lambari e Cambuquira. Nesta época a ferrovia já se chamava de “Rede Sul Mineira”, e em 1931, passaria a compor a “RMV-Rede Mineira de Viação”.
Com o passar do tempo as ferrovias foram trocadas pelas rodovias e o trem ficou no passado, finalizando nos derradeiros anos 70-80, com a desativação de trens e trechos de linha.Atualmente a Ferrovia possue trechos voltados para o turismo, como o da ABPF- Associação de Preservação Ferroviaria entre São Lourenço e Soledade de Minas, também na Mantiqueira entre Passa Quatro e caminho de Cruzeiro , sendo que outros projetos estão em estudo para a reativação total do trecho.
Fontes: “A Estrada de Ferro Sul de Minas” de autoria de Vasco de Castro Lima,publicado em 1934.Prefeitura de Cruzeiro/SPRevista FerroviáriaRevista Caminhos do Trem-Editora.História Viva-pg.14-Abril/2009.Livro-Diário Intimo- de Couto de Magalhães, autora Maria Helena Pereira … – 1998 – Cia das Letras/Bibl.USPFotos Pessoais do blogueiro e da BNRJObs: José Vieira Couto de Magalhães, mineiro de Diamantina,formado em Direito na USPFoi secretário da Província de Minas Gerais em 1862, presidiu a Província de Goiás, entre 1864 e 1865, presidiu a Província do Pará. Durante a Guerra do Paraguai foi enviado ao Mato Grosso, onde permaneceu como presidente até 1867. No campo das atividades civis apresenta grandes iniciativas, como a navegação dos rios Araguaia, Marajó e Tocantins; a organização da companhia Minas and Rio Railway, mais conhecida por Estrada de Ferro do Rio Verde,que ligou Cruzeiro/SP a Três Corações/MG;Inf: Antes não eram Governadores, mas Presidentes dos Estados.
Foto: Fotografia de Marc Ferrez. Parte integrante do Documentário Fotográfico de Construção da Minas and Rio Railway. Os originais se encontram catalogados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
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